É comum nos depararmos com diversos vídeos, livros, programas e páginas em redes sociais nos ensinando a conquistar e ter sucesso. Estamos acostumados a pensar em sucesso voltado para ascensão na carreira ou empreendedorismo com intenso aumento de renda.
Rentabilidade e posição social são importantes aspectos que compõem nosso imaginário coletivo de sucesso. Nós aprendemos a associar dinheiro à status, e compreendemos que ele fornece a possibilidade de reconhecimento social. Essa premissa, no entanto, mostra uma parte da realidade e encoberta outra, já que o sucesso e felicidade não são sinônimos.
A gente não pode deixar de questionar o motivo do nosso conceito de sucesso estar quase sempre ligado ao dinheiro. Talvez isso vá além do conforto que ele possa proporcionar para cada um de nós, e tenha a ver com o funcionamento do sistema. Ora, se todos acreditarem que é necessário buscar dinheiro como forma de reconhecimento, haverá muitas pessoas produzindo intensamente, gerando lucro para grandes corporações. Lembrar disso é essencial para que a gente não apenas reproduza o que esperam da gente, e muitas vezes “pague o preço” com exaustão, estresse e doenças psicossomáticas.
Tendo isso em vista, somos convidados refletir sobre isso por diferentes vertentes:
- O sucesso de todos é o mesmo que sucesso para mim?
Algumas vezes, “engolimos” verdades apresentadas pelo mundo como se fossem nossas também. Pode ser que buscar esse sucesso te cause bem-estar, mas pode ser que isso não seja compatível com seus próprios valores.
É provável que você conheça alguém que conseguiu se enquadrar na definição de sucesso para nosso tempo (dinheiro e status, por exemplo), mas vivia de uma forma predominantemente agitada, estressada e inquieta.
Nesse exemplo a pessoa conquistou esse objetivo externo, mas internamente o cenário não foi igual. Isso poderia gerar uma certa tensão psíquica, na medida em subjetivamente, essa pessoa vive uma contradição.
Por esse motivo gostaria de propor uma ampliação do significado de sucesso como “boas vivências subjetivas”. Sucesso é o que te faz bem!
Para esse estado de bem-estar, também é importante perceber o que é importante para você no plano objetivo. Como você gostaria de investir a maior parte do seu tempo? Fazendo o que e com quem? Por quê?
Perguntas como essas podem te auxiliar a pensar sobre o que é sucesso para você.
Cada pessoa vive o sucesso de uma forma diferente. Então é importante perceber o que faz com que você se sinta bem, e buscar isso é uma forma de conquista.
2 – Como posso conquistar?
Tendo em vista que o sucesso pode ser diferente para cada pessoa, é importante questionar o que é desejado conquistar, e traçar um plano de ação. Para isso você pode pensar no passo a passo, adversidades que podem ser encontradas, segundas opções de plano, recursos materiais e imateriais necessários. Isso pode ajudar a gente a alcançar nossa conquistas, mas isso não é garantia de que conquistaremos.
Estamos acostumados a ouvir que tudo depende da gente, e basta esforço para alcançar o que desejamos. Isso também não é uma completa verdade. É verdade que podemos fazer aquilo que é possível, e dentro de alguma medida, podemos superar desafios. Isso quer dizer que você pode (e talvez deva) se esforçar, mas isso não é garantia de que irá conquistar o que deseja de forma parcial ou total.
Não conquistar não é o fim do mundo! É importante compreender que algumas vezes as coisas não vão sair do jeito que desejamos, seja por possíveis falhas ou por questões circunstanciais. A forma como nossa sociedade funciona hoje não fornece espaço para todo mundo, e os lugares de privilégio não são ocupados apenas por quem se esforçou ou por quem é melhor. Perceber isso deve nos despertar para buscar mudanças estruturais coletivamente, e não apenas nos contentarmos com o que temos hoje. Ainda assim, quando a gente falha, é possível buscar recursos para auto cuidado. Isso nos leva à última pergunta:
3 – Como lido com meus próprios fracassos?
Se quando a gente conquista, a gente comemora e fica feliz, quando fracassamos o contrário acontece, certo? Bom, não precisa ser necessariamente assim. É claro que temos o direito de ficar triste quando falhamos, ou quando nossa expectativa não é cumprida. Ao perceber esse sentimento, vale lançar mão da tentativa de se acolher. Para isso é importante lembrar que você é muito mais do que aquele momento de decepção, e que isso não define o seu valor. Você é uma pessoa inteira, e abraçar a própria complexidade é essencial. Depois que a tristeza aguda estiver melhor, você pode se perguntar o que poderia ter feito de forma diferente, sabendo que está tudo bem em não ser perfeito. A partir dessa avaliação você pode decidir se vale a pena tentar de novo ou não. Desistir nem sempre é sinal de fracasso, tendo em vista que sucesso e autocuidado andam juntos. É importante tentar de novo e acreditar na própria capacidade, mas de uma forma humana, tudo bem você não “salvar o mundo”.
Independente dessa decisão, insista em se tratar com gentileza durante o processo. Escrever para si, ou gravar áudios podem ser instrumentos que te ajudam nesse caminho de elaboração. Buscar uma especialista e ter acompanhamento psicológico será muito importante neste processo. Você não precisa lidar com isso sozinho(a).
Cristina Gonçalves de Abrantes
Psicóloga CRP 06/135259